domingo, 27 de fevereiro de 2011

O dia em que eu dormi na praça

Um dos ditados mais certos que já inventaram é o tal do "Faça o que eu digo, não faça o que eu faço". A teoria das boas práticas, boas maneiras, bons costumes, a gente sabe de memória. O difícil é colocar tudo o que é certinho em prática. No Turismo não é diferente. Tem uma série de coisas que a gente sabe que tem que fazer, antes de afivelar as mochilas. Só pra citar algumas:

1. Se você gosta de viajar com cédulas, leve o dindin mais gordo no doleiro, por baixo da roupa;

2. Deixe o passaporte sempre em lugar seguro (pode ser no próprio doleiro) e não perambulando pela bolsa de mão;

3. Antes de aventurar por terrenos desconhecidos e mais afastados dos centros urbanos, pesquise sobre questões como segurança e horários do transporte público para voltar;

4. Independentemente se está no Brasil ou no primeiro mundo, não dê mole com a câmera de fotos;

5. FAÇA SEMPRE RESERVA DE HOTEL, ANTES DA VIAGEM.

Parei na quinta dica (poderiam ser vinte, trinta ou cem), porque já estava me dando nervoso. Absolutamente todas eu descumpro. Ou, pelo menos, as quatro primeiras. Essa questão de viajar sem reserva de hotel, coisa que eu amava tanto no passado, já me deixou em frias incríveis. Certa vez tive que pagar um hotel em Madrid de 150 euros a diária para uma única pessoinha, porque todas as pousadas de 50 já estavam lotadas. Outra vez, e essa é a mais engraçada, eu me senti os próprios "Bruno e Marrone": Dormi na praça! Literalmente! (A diferença é que eu não era um cara carente e muito menos fiquei "pensando nela...").

Isso foi em Pamplona, em pleno ano 2000. Cheguei super-tarde da noite, absolutamente sozinha, confiando que numa cidade relativamente grande haveria muitos hotéis, pousadas etc. E tinham! Acontece que a cidade estava em festa e absolutamente TODAS as vagas estavam ocupadas. No hay sitio foi a frase que mais ouvi naquela noite fria de final de outono. Busquei pousadas, hoteis melhorzinhos e até o mais aprumado hotel da cidade que me tomaria uma montanha de pesetas. Quando cheguei lá, mochila nas costas (por supuesto), já fui encarada daquele jeito: "O que você está fazendo aqui, ô alberguista?". Quando abri a carteira (sim, abafa o caso, mas as pesetas andavam todas na carteira, e não no doleiro), falei a língua do companheiro: Seguinte, meu amigo. Pago o que for preciso. Até na presidencial eu fico (naquele tom de desespero). E aí, uma lição perfeita do senhor Meu Deus. Dinheiro não vale nada! O cara foi taxativo: No hay habitaciones, señorita. No hay sitio! Ainda olhei com aquela cara de cachorro esquecido na mudança (bem diferente da goga que meti quando abri a carteira cheia de pesetas) e perguntei humildemente se poderia esperar amanhecer no saguão do hotel. Imposible!, me respondeu o nada amável colega.

Deu meia-noite, uma, duas da manhã, nada de vaga. Qual foi a saída? A praça!!!! Dormi no banco de um praça em Pamplona, com todos os meus medos brasileiros (ladrão, estuprador, sequestrador...) e, para minha sorte, o máximo que me aconteceu foi um bêbebo barbudo meio asqueroso me acordar para pedir uma vaguinha no banco (eu prontamente cedi espaço ao companheiro e fui para outro banquinho, geladinho diliça). A polícia, sempre atenta aos ataques terroristas do ETA pela cidade, veio conversar comigo umas três vezes durante a noite. "Vamos para a delegacia. Lá nós temos calefação e um sofá onde você pode dormir". Eu, ein? Polícia para quem precisa de polícia! Muchas gracias aos educados rapazes fardados, mas decidi continuar compartilhando a praça com meu amigo boracho.

Da experiência, sobraram duas lições. A primeira, já citada, é que dinheiro é bom mas, em determinados momentos, não vale nada. E como é saudável lembrarmos disso sempre, viu? A segunda lição foi a tal da viagem sem reserva. Aqui pra nós (que ninguém nos ouça, digo, nos leia), continuo aventurando às vezes, mas só se eu chegar ao destino muito cedinho da manhã (porque sobra o dia todo para peregrinar), ou se estiver com a cabeça virada. Imagine o quanto já me arrisquei... além de Madrid e Pamplona, já fui para Chapada Diamantina sem reserva, Praia do Francês (AL) e até Londres! Isso só para citar alguns destinos. Eu ein? Sai pra lá, doida! Ou eu tô ficando velha, ou aprendi a lição. Na dúvida, não custa nada pegar uma dica com um amigo, ligar para uma agência de viagens da sua confiança ou cascavilhar na internet (nesse caso, sabendo que "ser cobaia", aventurando por um hotel da internet sem dicas de amigos ou profissionais, também oferece seus riscos). Agora, se você gosta mesmo é de aventurar e se sente preso com hotel reservado, vá na paz, irmão! Mas, não esqueça do fair play na hora de dormir na praça.

Beijocas e boa viagem!

Naide

Um comentário:

  1. @Kaudo: E o melhor de tudo é ter muita história pra contar! Parabéns, and have a nice trip!

    ResponderExcluir